
Em 2012 eu desejo amar ainda mais a minha história e as pessoas que fazem parte dela.
Desejo que o meu sorriso permaneça. Este ano descobri o adjetivo solar e nunca mais quis que ele fosse outra coisa.
[...]
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho impar''
Carlos Drummond de Andrade
Drummond é fantástico. Ele sim era um real ímpar. Glorioso ímpar. Saudoso também, é claro.
Pois bem. Tenho medo de muita coisa que eu tenho lido, sabe. Acho que estamos em uma época que todos temos receitas de sucesso para tudo. ''Como arrumar um namorado'', ''Como fazer sua vida mais feliz'', ''Como lidar com o tipo x de pessoa''. Ótimo. Estamos com todos os problemas resolvidos. ou não
Criamos um contrato inconsciente com a perfeição. Nos obrigamos a ler mil listas e nos sentirmos infelizes por não cumprirmos todas as cláusulas. Assinamos o contrato sem ler, meu amigo. E agora, José?
Claro, para muitas coisas nessa vida existem técnicas. Técnicas praticamente infalíveis, eu arriscaria. Mas e para o ser humano? Para lidar com pai, mãe, irmão, namorado, amigo, marido... Cadê essas técnicas realmente infalíveis?
Confesso que caio nessa armadilha com frequência. Vez em sempre me pego lendo esses blogs que dão mil dicas sobre relacionamentos. E não me sinto bem. EU FAÇO TUDO ERRADO!
Homens gostam disso desse jeito e mulher gostam disso de outro jeito. Eles estão mentindo se disserem que vão dormir. Elas fingem orgasmo. E metade do mundo vai levar como verdade. Ou dar um bom crédito a veracidade da informação. Assunto recorrente nessas listas é o sexo, obviamente. Em alguma coisa vamos nos sentir inseguros quanto a isso. Não importa o que for, a lista vai apontar o dedo no seu nariz e tentar te convencer que você não é sexualmente atraente o suficiente. Com toda aliteração que a acusação me permite.
O que fazer, como fazer, como olhar, como tocar o outro. Não estou dizendo que tudo é de se jogar fora, por favor.Mas e se o outro não gostar de nada disso? E se eu não gostar de nada disso?
Esses dias, nessas andanças no mundo dos conselhos amorosos, li um texto muito interessante no Papo de Homem. Com certeza vale a leitura!
Como ele diz no final, tesão pela vida, meu povo. O tesão pelo outro, do outro por você, vem na esteira.
Enfim, acho que o único ponto que eu quero chegar com isso é que o ser humano não tem receita que garanta o sucesso. Somos ímpares, como bem disse Drummond. Ímpares em sentimentos, ações, personalidade, gostos e, principalmente e felizmente, em pensamentos.
Luana H.
''Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.''
Martha Medeiros
Este marasmo tempo de férias de tudo tem me levado a uma pergunta única e constante: Quem sou eu de verdade?
Sim, essa pergunta tão fatal, simples, filosófica, retórica, essencial, infantil, sei-lá-o-que-mais. Foram muitas consagradas tentativas de iluminar esse caminho tão complexo. De Lewis Carrol, com a curiosa Alice, ao fabuloso José Saramago, com o romance mais dolorido e verdadeiramente humano que eu já li.
É difícil aceitar que a descrição de Luana, e toda formação imaginária que ela traz, possa responder essa pergunta.
E realmente não responde. A Luana professora não mostra que o que ela é agora traz a lembrança de muitas professoras. Traz aquela aula em que a professora falou sobre como só podemos ser interiormente atingidos se deixarmos. Traz aquela aula em que um assunto polêmico foi discutido ou aquela outra em que lemos um texto sobre o valor da amizade.
A Luana amiga, sorridente e engraçada não deixa tão evidente que aquelas tardes de conversa e tentativa de estudo deixaram marcas profundas. Boas e ruins. Meu rosto não mostra aquele abraço com lágrimas nos olhos que eu dei nos meus melhores amigos da oitava série no último dia de aula.
Eles não sabem que sou feita de livros, músicas, lágrimas, sorrisos, momentos bons, ruins. E outro fato curioso é que nem eu mesma sei o que forma essa estranha matéria. Como diria Alice, ''Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma''.
Não sei quais são esses pequenos pedacinhos que formam uma pessoa inteira. Não sabemos e ainda assim caímos nessa armadilha e achamos que conhecemos o coração das pessoas ao ponto de julgá-las. De dizê-las o que pensar, o que não pensar, o que achar,o que dizer, o que comer, o que vestir. Ou pior ainda, achamos que as pessoas são realmente o que vestem, o que comem, o que dizem.
Afinal de contas, como diria o grande José Saramago ''dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos''.
Luana H.
'' Mas quem tem coragem de ouvir
Quem não acompanhava o Contos e Confissões ainda não sabe de uma grande paixão que venho descobrindo: Sou professora.
Confesso que a profissão que escolhi me emociona muito e me inspira diversos sentimentos. Nobres ou não, o maior deles é o egoísmo.
Pois bem. Resolvi ser professora por puro egoísmo. Isso. Egoísmo puríssimo.
Egoísmo porque vejo neles traços dos meus colegas de escola, dos meus momentos de escola e, até mesmo, traços de mim mesma.
Egoísmo porque projeto neles o que eu fui, o que eu não fui, o que gostaria de ter sido...
Egoísmo por me sentir responsável, um pouquinho que seja, pelo futuro deles.
Profundamente egoísta porque quando vejo o desespero deles diante de uma prova ou um trabalho da escola, lembro que eu já passei por isso. E assim como eles, achei que nunca ia passar. E passou. Assim como tudo vai passar, menos as boas lembranças.
Egoísta ao ponto de procurar no rostinho deles semelhanças com o meu e pensar: Será que meu filho vai ser assim?
O amor de adolescente, o riso sincero da brincadeira de criança, a amizade que parece ser eterna, o companheirismo. Um egoísmo que me permite olhar de outro modo tudo isso, sabendo que já passei por aquilo e sinto muita saudade. Ou será inveja?
Oportunismo. Isso. Oportunismo. Aproveito-me da oportunidade de conviver com o fruto de nove meses de espera de outra mulher para experimentar um pouquinho da sensação de querer proteger e educar uma criança. Da vontade de querer aplacar suas dores, abraçar, ver o desenvolvimento, chorar de emoção nas apresentações. Experimentar um pouco, mas bem pouco mesmo, do que é ser mãe.
Não. É egoísmo mesmo. Egoísmo porque tiro deles a força para continuar, mesmo quando todas as vozes dizem que não vai dar certo.
Egoísmo do mais puro, e por que não do mais nobre também, porque tenho o sonho utópico de que as palavras levadas por meus alunos ainda vão mudar o mundo.
Luana H.