quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Castanho-esverdeado.

''Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu? Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim -enfim, mas que medo- de mim mesma."
Clarice Lispector

Andei sumida. Mas ando pensando muito. Em muitas e variadas coisas, como o que minha vida está se tornando, os caminhos, os rumos, o destino que eu mesma estou escolhendo e traçando pra mim. Pensando nas aulas que eu tenho que dar, pensando em como fazer a diferença para essas crianças. Pensando e tentando lembrar de detalhes do passado... Sabe aquelas coisas que você tem que parar de pensar para não enlouquecer ou não criar perguntar demais? E tenho pensado muito muito muito... E vendo e escrevendo muito pouco.
Ontem me vi em um conto que poderia ter sido escrito por Clarice. Eu estava olhando algumas fotos minhas de quando eu era pequena. Quando eu era bebê, tinha os olhos verde-escuros, assim como eles ainda ficam quando eu choro ou me exponho demais ao sol. Outra coisa que sempre chamou atenção nas fotos é uma manchinha na barriga que eu tenho até hoje.
E vendo essas fotos me peguei surpresa ao olhar para a minha barriga e descobrir que a mancha ainda está lá. Corri para o espelho, olhei bem fundo dos meus olhos e fiquei procurando o verde-escuro. Encontrei.
O que me surpreendeu não foi a mancha continuar lá ou a cor dos meus olhos ainda ser mesma. Aliás, muito pelo contrário, pois são fatos totalmente previsíveis. O que me deixou impressionada foi como eu estou me esquecendo de quem eu sou e dessas pequenas coisas que me fazem assim. Acho que o verbo mais adequado não é esquecer, mas sim perceber. Estou não estou mais percebendo estas pequenas coisas que me fazem ser quem eu sou. Eu sempre gostei da minha mancha na barriga. E o verde-escuro ou castanho-esverdeado dos olhos também. Adorava, e ainda adoro, quando alguém repara.
Pequenas coisas que me fazem perceber que penso tanto, me preocupo tanto ''comigo'' mas não consigo mais ver claramente o ''eu'' que sempre fui.

Luana H.